Tem uma igreja no centro da cidade camuflada
entre sobrados residenciais. Sua cor é de um rosa desbotado, ajudando ainda
mais na sua discrição. Mas do lado de dentro o teto é muito alto e provoca uma
acústica que, combinada com o piso de pedra, faz tudo ecoar de forma grandiosa.
Dona Bilola gosta de colocar sapatos de salto para ir na igreja, porque se
sente poderosa de alguma estranha forma quando ouve o som que seus passos
produzem. Dona Elena pensa nisso como um desrespeito à sagrada casa de Deus,
preferindo o total silêncio de suas solas baixas. Já o Padre Ermírio sente uma
satisfação enorme ao ouvir o zunido das vozes dos fieis aumentado pela acústica
peculiar. Foi por isso mesmo que decidiu formar um coral de crianças, para
deleite de seus ouvidos – e das carolas.
Mas é
durante a noite que a igrejinha ganha seu tom mais peculiar e sombrio. O padre,
que mora na casinha dos fundos, se pela de medo de ter de pisar na nave sagrada
depois das 22:00. As estátuas de santos ganham tamanhos inimagináveis nas
sombras formadas pela luz alaranjada dos postes que entra pelos vitrais
pequenos e verticais. Dona Aracy, da limpeza, teria muito medo só de
imaginar-se dentro da igreja durante a noite. Mas ama ouvir o som dos
passarinhos ecoando pelas paredes do lugar de manhã cedinho.
De
dia ela é sagrada e de noite mal assombrada!
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